sábado, 16 de maio de 2015

Tirania da conectividade

Estava escrevendo um artigo sobre um problema que passou a afligir as pessoas desde que começaram a ficar mais facilmente conectadas, quando li, por acaso, um texto muito semelhante no New York Times. Pensei, vou concluir logo o meu, antes que me acusem de plágio!

Pois lá vai!

A partir do momento em que o telefone celular, e a telefonia móvel em geral, passaram a se tornar algo trivial na nossa vida, passamos a usufruir de uma série de comodidades até então desconhecidas, como a facilidade de entrar em contato com um amigo, um parente, um colega de trabalho, etc. Todos passaram a ficar disponíveis a qualquer hora e isso foi uma revolução nas relações sociais, facilitando sobremaneira o cotidiano, tornando a solução dos problemas mais rápida e eficaz, garantindo flexibilidade e segurança às relações profissionais, enfim, poderíamos mencionar inúmeras vantagens.

Mas uma coisa que perdemos, e que não recuperaremos jamais, foi a nossa privacidade, nossa intimidade, nossa individualidade. E não adianta dizer: ah, mas é só não atender as ligações, ou, desligue o celular, coloque no modo off line, bloqueie a pessoa. Isso não convence o tirano da conectividade!

Ao tomar qualquer destas atitudes você será implacavelmente interrogado e a primeira pergunta, invariavelmente, será: "você tem celular pra quê?". E você passará a ser julgado e condenado por ter ousado tentar romper as amarras da conexão, por ter desafiado as regras sagradas da disponibilidade 24 horas, e será considerado indigno de pertencer ao grupo, um misantropo, um ermitão, um bicho do mato.

E isso vem de forma emocionalmente violenta, sem perdão, para que você se sinta mal, o último dos criminosos, apenas por ter desejado alguns momentos de solidão e de paz consigo mesmo.

Sua família, seus amigos, seus colegas de trabalho, seu chefe, pacientes, fornecedores, secretária, telemarketing, cobradores, todos, absolutamente todos serão seus algozes e passarão a marcar e delimitar sua conduta, a definir seu caráter e sua personalidade simplesmente pelo fato de você atender ou não as ligações, responder ou não a um email, um SMS, um WhatsApp, um tweet, uma menção no Facebook, e por aí vai.

E aí, meu amigo, seja bem vindo ao clube!

Alguns até entenderão e respeitarão seu direito à privacidade, seu amor pelo silêncio, seu apego à liberdade de não ser localizado, sem culpa, sem drama de consciência e sem ter que compensar, de alguma forma, mais tarde, este pecado mortal. Mas a imensa maioria não terá pena, nem esta sensibilidade e te jogará na lava fervente da ignomínia e do egoísmo, passando a te tratar como um ogro que vive nas profundezas do pântano mais assombrado.

Você deve estar se vendo neste texto, não é mesmo? E se perguntando, como sair dessa sinuca? Sinceramente, não sei a resposta. Por isso que compartilho estes pensamentos com vocês. Quem tiver uma ideia, deixe nos comentários, por favor.